Quando eu não sei mais o que fazer, busco por frases que sabem.
É por isso que Bradburry disse que “Talvez os livros possam nos tirar um pouco dessas trevas. Ao menos poderiam nos impedir de cometer os mesmos malditos erros malucos!”
Eu tenho uma coleção de frases que guardo só para mim, em casos de emergência.
Digo emergência porque às vezes eu preciso ser salva por palavras, somente por elas.
Por vezes o caso é grave, dramático, de forma que sempre me pego revisitanto meus grifos, meus escritos e minhas anotações de livros 1 como se fossem verdadeiros tesouros.
Preciso que eles me resgatem de um estado de alma que eu entrei e não consigo sair, pois com frequência me sinto presa em meus devaneios, sem forças para solucionar todas as minhas angústias.
Preciso que eles me digam o que sentir, quando me sinto apática.
Sei que isso soa loucura, mas eu tenho um quê de gente dramática, você sabe.
Há dias em que me sento nesta cadeira e ‘pranteio’, não choro, pranteio, gotejo como uma esponja 3 Meus lamentos são inacabáveis: me comparo, me diminuo, me saboto e me odeio.
E quando eu não sei mais o que fazer, busco por frases que sabem.
A fim de encontrar nelas um argumento irrefutável para as minhas amarguras, para que elas me tirem da lama que é refletir em demasia.
Pois me recuso a viver como Niétotchka 2 viveu: mergulhada em abstrações.
Tenho pra mim que essas palavras carregam mais do que suas interpretações e visões de mundo, elas carregam o colo que eu preciso.
Elas dizem o que eu sempre senti e nunca soube explicar. Por isso o encantamento.
Não é atoa que Carla Madeira escreveu “Não é a frase, é existir alguém capaz de escrevê-la.”
É por isso que eu sou repetitiva em dizer que livros salvam.
É por isso que Bradburry disse que “Talvez os livros possam nos tirar um pouco dessas trevas. Ao menos poderiam nos impedir de cometer os mesmos malditos erros malucos!”
Quando os livros te tirarem o fardo de residir em si mesma, você saberá que eles salvam.
E talvez você se tornará também repetitiva.
E talvez você recorrerá a eles como quem recorre a um bote salva-vidas em alto mar, no meio da noite.
Com amor,
Bárbara
1 Se você quer saber mais sobre como fazer anotações, tenho um vídeo na plataforma do clube que pode te ajudar. Para ter acesso, clique no link da bio do meu Instagram
2 Referência a personagem Anna, de Niétotchka Niezvânova - Dostoiévski
3 Referências da fala de Offred, personagem principal de O conto da Aia - Margaret Atwood
Perfeito. Seus textos me emocionam e me tocam profundamente. Vc é maravilhosa Bárbara. Obrigada por tanto.